Mulher encontrada morta na Barra chegou ontem ao bairro, dizem moradores
Segundo testemunhas, ela e o assassino viviam em situação de rua
A mulher que foi encontrada morta em frente ao Farol da Barra, em Salvador, nesta quarta-feira (20), chegou ontem ao bairro. Segundo testemunhas, ela vivia em situação de rua e ainda não havia interagido com os outros moradores da região. Ela estava sem documentos e sem roupa e, ainda segundo testemunhas, o assassino também é morador de rua e usou uma pedra para cometer o crime. A polícia está apurando.
A vítima era jovem e estava acompanhada de outra mulher, aparentando estar na casa dos 50 anos, que também ficou ferida. Segundo as testemunhas, o crime aconteceu durante a madrugada. As duas mulheres estavam dormindo quando foram abordadas pelo criminoso. Ele usou uma pedra para atacar as vítimas. Mesmo ferida, a mulher mais velha conseguiu correr e caiu na esquina da Avenida Oceânica. Foi socorrida com vida.
A mais jovem foi perseguida até o letreiro em frente ao Farol e recebeu golpes na cabeça. O rastro de sangue começa na beira da calçada e segue até a base da estrutura, onde uma poça foi formada. O bandido fugiu após o crime, deixando a vítima sem roupas e sem documentos. Outros moradores em situação de rua acompanharam o trabalho da perícia que recolheu o corpo às 8h50. A integrante do movimento de população de rua, Jussara Silva, 33 anos, lamentou o crime.
“Ela estava em situação de rua. Eu vivi em situação de rua e te digo, se para um homem é muito ruim viver nessas condições, é muito pior para uma mulher que não tem estrutura física para se defender. Ela estava sem roupas. A gente desconfia que ela tenha sido abusada”, disse. É preciso aguardar o laudo da perícia para confirmar essa informação.
Outro morador de rua, que pediu para não ser identificado, ameaçou fazer justiça com as próprias mãos. “A gente conhece ele [o assassino]. Ele já vive por aqui há muitos anos. Pena que quando a gente chegou, ele já tinha corrido, mas estamos procurando”, disse.
Investigação
A polícia chegou pouco depois das 8h. Duas viaturas da Polícia Civil, três da Polícia Militar, um veículo da Perícia Técnica, popularmente conhecido como rabecão, e uma ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) atenderam ao chamado. Em nota, a Polícia Civil informou que a autoria e motivação estão sendo investigadas pela 1ª Delegacia de Homicídios (DH/Atlântico).
“O Serviço de Investigação em Local de Crime (Silc) do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) foi acionado na manhã desta quarta-feira (20), para realizar os primeiros trabalhos investigativos da morte de uma mulher, sem identificação formal, que teve o corpo localizado no Farol da Barra”, diz a nota.
Já a Polícia Militar informou que as equipes da 11ª Companhia Independente da PM (CIPM/ Barra/ Graça) receberam, primeiro, o chamado sobre a mulher ferida. “Posteriormente, chegou ao conhecimento da unidade que havia sido encontrado o corpo de uma mulher na região do Farol da Barra. Uma guarnição esteve no local e acionou a Polícia Civil para adoção das medidas cabíveis”, diz a nota.
Depois que o corpo foi retirado, uma viatura e uma base móvel da Polícia Militar ficaram de plantão no Largo do Farol da Barra. O movimento de turistas, moradores e trabalhadores foi intenso pela manhã. Alguns visitantes sequer notaram o sangue na calçada no momento de posar para as fotos em frente ao Farol da Barra. O casal paulistano Marcelo e Maria Eduarda, 38 e 33 anos, respectivamente, ficaram surpresos.
“A gente não percebeu. É uma pena que isso tenha ocorrido, principalmente em uma região que é um cartão postal dessa cidade. Fomos avisados de que a violência estava muito grande em Salvador, mas não esperávamos por isso”, contou a mulher.
Moradores que faziam cooper na região pararam para observar o trabalho da polícia. Um homem que não quis se identificar disse estar assustado. “A violência está em uma escada terrível. A gente fica pensando. ‘Se isso está ocorrendo aqui, em uma das regiões mais policiadas da cidade, imagine como não deve estar nas comunidades’. É triste”, disse.
Nas redes socais, soteropolitanos também reclamaram da insegurança. Uma mulher desabafou. “Todo dia pela manhã, abro o Instagram e tem um corpo que foi achado em algum lugar de Salvador. A nossa triste realidade”, disse.
Outra mulher escreveu. “Hoje o corpo de uma mulher. Ontem, a cabeça de um homem. Salvador está massa, só que não”. Uma referência a cabeça de um homem que foi encontrada em frente a Unidade de Pronto Atendimento (UPA), em São Marcos, na terça-feira (19).
Um homem lembrou da escala da violência nos últimos anos e contou que pretende mudar. “Sei que não existe lugar 100% seguro nesse mundo, mas com certeza existem lugares menos violentos que Salvador, até mesmo aqui dentro da Bahia existem cidades mais tranquilas. Sou nascido e criado aqui e sinceramente nunca vi Salvador chegar a esse nível como está”, escreveu.
Esse foi o segundo corpo encontrado na Barra em menos de seis meses. Em julho, o corpo de um homem foi encontrado dentro de um isopor na praia do Porto da Barra. Era um dia de domingo e o isopor estava abandonado entre o Forte de Santa Maria e o Farol da Barra, na calçada, perto de um quiosque de água de coco.
Divulgação: Correio