Festival Melanina Acentuada começa hoje com O Avesso da Pele, peça baseada no livro de Jeferson Tenório
Edição discute a poética das narrativa negras no cinema, teatro, literatura e redes sociais
Destacando a atualidade das narrativas negras brasileiras em suas diferentes modalidades e expressões artísticas, o Festival Melanina Acentuada chega à sua sexta edição em Salvador. A abertura do festival acontece hoje (23), às 20h, com o espetáculo O Avesso da Pele, montagem teatral que adapta o premiado romance escrito por Jeferson Tenório, no Teatro do Goethe-Institut. O evento segue com atividades até o domingo (29), com uma programação que une espetáculos de teatro e debates sobre cinema, literatura e redes sociais no Goethe, Teatro Aliança Francesa, Teatro Martins Gonçalves e na Casa Rosa.
Idealizado pelo ator e diretor baiano Aldri Anunciação, o festival, iniciado em 2012, tem sido um espaço para a promoção e valorização das histórias negras e já teve mais de 40 espetáculos na sua programação, desde sua estreia. O evento busca dar foco não somente ao conteúdo, mas também aos formatos em que essas narrativas chegam ao público e às suas características artísticas.
“A gente tem percebido que as narrativas negras estão no hype do momento. As pessoas estão muito interessadas em nossas histórias, nos nossos conteúdos, mas a gente pensa muito pouco no formato em que esses conteúdos estão sendo embalados. Estamos pensando muito pouco nas linguagens que estão sendo usadas. O Melanina traz esse ponto importante, da gente desfocar um pouco no tema da negritude e focar mais na poética da negritude. Que cinema é esse, que formato tem sido feito, que dramaturgia está sendo forjada? É tragédia, comédia, distopia? Que literatura é essa? É do fantástico, é realismo? Quais são os caminhos que estão sendo tomados pelas linguagens e como as articulações de cenas estão sendo montadas”, diz Aldri.
Foi a partir desse olhar e baseado nas provocações da plateia de edições passadas que surgiu o recorte que norteia o festival neste ano: Qualidade Transmídia das Narrativas Negras. “Essa qualidade multimodal, das narrativas negras que estão nas roupas, nas músicas, no teatro, no cinema, na literatura e muitas vezes a mesma história, a mesma narrativa, está em todos esses lugares”, pontua o curador.
Ele explica que essa temática norteou as escolhas dos espetáculos, que são adaptações de livros ou que foram adaptados para literatura e audiovisual. “A gente pegou espetáculos que têm essa capacidade múltipla de estar em vários lugares ao mesmo tempo”, complementa.
Nesta sexta edição, o público poderá assistir às obras: O Avesso da Pele (2023); Desmontando a Casa (2022); Desfazenda – Me Enterrem Fora Desse Lugar; O Pregador (estreia); Namíbia, Não! (2011); Mais Pra Lá Do Que Pra Cá (2023); Dandara na Terra dos Palmares (2022) e Macacos (2015).
A programação do festival conta com oficinas de formação, consultorias dramáticas, entrevistas públicas e ateliês que buscam ressaltar a fluidez entre diferentes formas de arte. A exemplo das narrativas negras, que, com sua potência e multilinguagem, encontram novas expressões e audiências através do cinema, teatro, literatura e redes sociais. O Melanina busca ainda fomentar discussões sobre a poética das narrativas negras com a presença de personalidades como Leda Maria Martins (MG), Rodrigo França (RJ), Mônica Santana (BA), Fernanda Felisberto (RJ), Diego Araújo (BA), Tom Faria (RJ), Joelzito Araújo (RJ), Licko Thurle (RJ) e Fábio Santana (Bando de Teatro Olodum), que participarão das discussões, mediadas por Alexandra Dumas e Aldri Anunciação.
Seleção do curador
Das 16 atrações do evento, Aldri destaca três atividades imperdíveis para o público. A primeira delas é a entrevista pública com o ator e dramaturgo do espetáculo Macacos, Cleyton Nascimento, que acontece no domingo (28), das 13h às 14h30 no KreativLab do Goethe-Institut, no Corredor da Vitória. “Ele se apresentará nos dias 27 e 28 com o espetáculo e vai ter essa entrevista pública. Ela é pública porque começa com o público, é um jogo de bate-papo, conduzido por mim e que a plateia pode interferir, perguntar como foi a cena da noite anterior e como ele forjou essa dramaturgia”, explica.
“Um outro momento muito interessante será o compartilhamento de poética com o Bando de Teatro Olodum, que vai falar um pouco da diferença entre o Cabaré da Raça dos anos 90 e o Cabaré da Raça nos anos 2000, que eles remontam, trazendo um comparativo do amadurecimento dessa poética do Bando”, salienta Aldri. A atividade acontece no KreativLab do Goethe-Institut Salvador, no sábado (27), das 10h às 12h.
A última dica é a mesa Narrativas Negras Transmídia: Teatro, Cinema e Literatura, mediada por Laís Machado e com a participação da professora e pesquisadora Fernanda Felisberto e do cineasta e dramaturgo Rodrigo França, na sexta-feira (26), das 13h às 15h, no KreativLab do Goethe-Institut Salvador. “Imperdível. É uma mesa que fala justamente sobre o tema central do festival e vai ser um encontro muito bonito”, finaliza o curador.
divulgação: Correio